Eu trabalho 4 dias por semana

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Eu trabalho 4 dias por semana

O dia já vai longo. Todas as tarefas que tinha definido para a semana estão terminadas.

Olho para a lista de coisas a fazer como uma criança radiante com um novo brinquedo. Feito, feito, feito.

Sexta-feira é dia de escrever. Desde que passámos a ter quatro dias de trabalho por semana, posso finalmente dedicar-me de alma e coração a um projeto com que sonhava há muito tempo: escrever um romance inspirado na história da minha avó.

O Adérito, meu vizinho, ocupa as sextas-feiras a proporcionar experiências de canoa a turistas que querem mergulhar nas histórias de pescadores e apanhadores de moliço da Ria de Aveiro.

A Jennifer estreia hoje o primeiro bar de concertos das Quintas do Norte.

No outro lado da rua vive o Élio. Este prefere usar os três dias de descanso para passar tempo de qualidade com os quatro filhos. Dois são adotados.

Cruzo-me com a Sofia que me confidencia que a sua equipa está mais produtiva do que nunca. E mais, não está preocupada com o aumento galopante da robotização de processos. A Sofia não reduziu um euro nos salários da equipa.

Sou uma das pessoas que, numa fase inicial, não acreditou que esta mudança fosse benéfica para as empresas. A realidade prova que estava errado.

As pessoas estão mais felizes, conseguem equilibrar melhor a vida pessoal e a vida profissional, têm tempo para apostar nos seus sonhos, na sua missão. O mundo deixou de estar em piloto automático.

E, espantem-se. A qualidade do ser humano combinada com a inteligência artificial dos robots tirou a economia do planeta da estagnação e todos os países estão a crescer. Surgiram novos negócios. Todos os dias os noticiários abrem com histórias de inovações que até então pareciam impossíveis. As pessoas têm tempo para pensar, para dialogar e para imaginar.

Nunca o mundo foi tão criativo.

Imagem de tigerlily713 por Pixabay

Sei que a semana de cinco dias e 8 horas de trabalho por dia foi a norma desde que Henry Ford decidiu instituir esta prática nas suas fábricas. O empresário percebeu que este horário permitia que as pessoas fossem mais produtivas. Antes todos trabalhavam dezasseis horas e tinham uma folga semanal para deveres religiosos.

Desde os anos setenta que economistas e pensadores equacionavam adaptar a semana laboral, apontavam várias vantagens para além do aumento da produtividade:

– Impulso ao consumo;

– Crescimento económico;

– Redução do desemprego tecnológico;

– Aumento da qualidade de vida.

Em 2022, a Coverflex realizou um inquérito e 60% das pessoas responderam que desejavam a semana de trabalho de quatro dias.

A mudança foi gradual. Foram sendo feitas adaptações. Todos os indicadores estudados profundamente. A conclusão foi sempre a mesma: a produtividade não sai afetada pela redução do horário de trabalho. A economia não colapsou. Diminuiu o número de suicídios, as empresas fabricantes de antidepressivos reduziram a sua produção em 40% e a Organização Mundial de Saúde deixou de classificar o burnout como síndrome ocupacional.

A espécie humana é resistente à mudança e por vezes a ganância fala mais alto, no entanto, já dizia o poeta, “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.

Afonso Martins

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