2 minutos em abril de 2046
Hoje o dia está claro. A luz que entra pela janela dá um brilho especial aos olhos do Stimpy e da Milú. Salto da cama, tomo um duche sem água na cabine bioeficiente, penteio os pêlos desalinhados da barba, coloco uns jeans e uma camisa reciclados, calço-me e empurro para o estômago um café longo, um copo de água e dois N.Ovos estrelados.
Vou trabalhar.
Dirijo-me ao contentor das bicicletas, um dos muitos que existem espalhados pela cidade, e escolho a que tem a bateria totalmente carregada. Com bom tempo, escolho sempre a bicicleta como transporte. É amiga do ambiente, simples de usar, e tenho uma aplicação do município que me permite desbloqueá-la e utilizá-la. Ainda para mais, os impostos municipais que pago tornam este serviço gratuito.
Quando chove, uso o único veículo que possuo, um pequeno carro elétrico com autonomia para 100 quilómetros; distância mais do que suficiente para as deslocações diárias da grande maioria dos portugueses.
A viagem até à empresa segue tranquila. Enquanto pedalo, aprecio a paisagem. Vejo ao fundo a Ria de Aveiro e as muitas espécies de aves que a sobrevoam. Regressaram à cidade desde que a poluição diminuiu.
Diminuiu porque todas as empresas apostaram em produzir a sua energia, recorrendo a painéis solares fotovoltaicos de grande rendimento. Abandonaram gradualmente os combustíveis fósseis; apenas os utilizam nas viaturas de transporte para grandes distâncias: camiões e aviões híbridos. Os processos produtivos são também muito mais eficientes. Os telhados de Portugal são uma grande central de produção de eletricidade.
Chegado ao meu gabinete, após duas reuniões holográficas com clientes na sala de reuniões virtuais, recebo a notícia de que tenho de fechar um negócio presencialmente em Leiria. No passado, o meu carro a diesel seria a opção para chegar rapidamente. Hoje, com a utilização dos túneis construídos pela The Boring Company, consigo utilizar o meu pequeno carro e chegar rapidamente ao meu destino. Portugal foi o território escolhido por Elon Musk para lançar estes túneis que nos permitem circular entre as nossas cidades, incluindo todas as do interior do país.
Já dentro do carro, programo o meu destino, entro no túnel para Leiria e sigo confortavelmente enquanto trabalho no meu telemóvel. Aproveito para verificar no MYgreenFeed qual a minha pegada ecológica até esse momento. Fico feliz. Reduzi a minha pegada em 75%, comparando com a que deixaria na década anterior.
Eu sei, eu sei, estamos em 2022 e este sonho de mobilidade parece impossível. Mas tenho fé no engenho e criatividade da humanidade. O caminho para a sustentabilidade tem de passar por estes 4 pilares:
- Tornar a mobilidade urbana mais suave;
- Reduzir e reutilizar;
- Transformar todos os telhados em produtores de eletricidade;
- Adaptar o transporte de mercadorias à via ferroviária e recorrer a viaturas pesadas híbridas ou que utilizem 100% de biodiesel (HVO).
Basta de discursos bonitos em convenções e encontros. O desafio é agora.
Bem-vindos ao presente.
Afonso Martins